Reunir, ajudar, compartilhar uma vida... esta também é intenção deste blog. Por isso, pedi o auxilio de amigos soropositivos de um grupo que pertenço para que colaborassem com essa empreitada. Assim, abram-se as cortinas, mostrem seus corações e emocionem-se com histórias de pessoas maravilhosas que o HIV atingiu, mas que o VIVER é cada dia mais forte e a SUPERAÇÃO é nosso sobrenome!
HISTÓRIA DE VIDA 1
"Claro que a palavra POSITIVO no papel ninguém quer ler" |
Ora, se eu contasse tudo que já vi e por tudo que já
passei ia dar um livro, hahaha, brincadeiras a parte, meu nome é Davi (sim, é
Davi mesmo), tenho 22 anos, não sou da região do Vale, todavia compartilho com
vocês um pouco da minha história.
Eu comecei minha vida sexual um pouco cedo, com 12 anos
já tive minha primeira experiência, talvez por isso eu tenha amadurecido um
pouco mais rápido que meninos da mesma idade que a minha (na época), mas isso
não vem ao caso, naquela época ouvia-se falar em prevenção, não tão
enfaticamente como hoje, mas havia esse papo de camisinha e tudo mais, só que
uma criança de 12 anos, por mais “madura” que poderia ser, não se atentava a
esses detalhes.
Tive várias experiência a partir de então, dos meus 12
aos meus 16 fui meio “porra louca” mas raríssimas as vezes que não me protegi.
A partir dos 16, com uma mente mais formada, tomei mais cuidado em minhas
relações, mas nunca me “firmei” com alguém, sendo que, dos 16 aos 17 foi o ano
que mais tive contato sexual. Depois de muitos contatos, “estabilizei”, a
partir dos 17 anos parei de me relacionar, talvez tenha perdido o desejo, o
apetite sexual, sei lá, talvez por ter conseguido o meu primeiro emprego, tenha
auxiliado nesse processo.
Saí de tal empresa quando tinha 18 e pouco antes da minha
saída, comecei a estudar, todavia não sigo a área em que me formei técnico. Por
conta do técnico comecei a estagiar em um órgão público dentro da USP e nesse
intervalo entre primeiro emprego e estágio tive mais alguns envolvimentos, dois
deles sem proteção e um que a camisinha veio a estourar.
Comecei o estágio, com mais ou menos 1 mês de estágio,
adoeci, peguei uma faringite fortíssima (pelo menos foi o que os médicos
disseram, hoje sei que já foi uma etapa aguda do contágio com HIV) tive
sintomas típicos de dengue, dores no corpo, dores de cabeça, manchas vermelhas
pelo corpo, etc, todavia fui diagnosticado com a tal da faringite e os médicos
não fizeram exame específico para HIV nem para dengue (o que podia ser já que
na época teve um início de surto em SP e a USP é mato puro, hahaha). Depois de
duas semanas de tratamento a base de antibióticos fortíssimos, melhorei, e
resolvi sair do estágio por conta da distância em relação ao trabalho, ETEC e
minha casa.
Depois de um ano, e com uma cabeça bem melhor, resolvi,
por vontade própria, fazer o tal do teste, e convidei uma amiga íntima minha
para fazer também, pois ela teve exposição de risco com o ex namorado. Depois
de colher o material para exame no CTA do Sta. Cruz, esperamos o resultado.
Como colhemos ao mesmo tempo, fomos chamados ao mesmo tempo, cada qual com uma assistente
social diferente. Foi então que recebi o diganóstico. Claro que a palavra
POSITIVO no papel ninguém quer ler, mas eu sempre fui meio frio e calculista
para determinados assuntos, o que me ajudou a receber tal notícia, confirmei
aquilo que eu suspeitava desde a época do estágio, eu me tornara, oficialmente,
portador do HIV. Naquele momento não esbocei nenhuma reação esbaforida, peguei
o resultado e fui pra casa, assim que minha mãe retornou do trabalho, dei a
notícia, foi um chororo só. Mas ela, muito apegada a igreja (assim como eu)
logo “superou”.
Fui encaminhado a uma CTA próxima da minha casa, no
primeiro dia que fui, para pegar guias de exames, marcar consultas, e
derivados, mamãe também foi. Ela perguntou tudo que quis para os assistentes e
os médicos que estavam de plantão, aliás, ela também é da área da saúde e não é
nenhuma leiga no assunto, mas como aconteceu com o filho dela, talvez tenha
ficado um pouco “burra” a respeito. É aquela velha história, pode acontecer com
o vizinho mas não com a gente, rsrs.
Hoje em dia, completo 2 anos de tratamento, mas pelo meus
cálculos, 3 anos de contágio, levo uma vida TOTALMENTE normal, cuido mais da
minha alimentação, tomo meus dois remedinhos (Biovir e Efavirenz) que não
provocaram efeito colateral NENHUM, e posso dizer que vivo melhor hoje do que
antes, pois tenho o cuidado de me cuidar.
Fiz amizades maravilhosas nesse meio tempo, que aqui
escrevem.
Saibam que HIV não é nenhum bixo de sete cabeças, é um
percalço na vida, talvez coisa do destino, não sei.
O amanhã a Deus pertence, não fico na neura esperando
loucamente pela cura, acho que se acontecer, aconteceu, ficarei feliz, mas
enquanto não acontece, continuo a viver.
Abraços a todos.